Porque é que insistimos em dar com a cabeça na parede?

05-04-2010 11:21

Se tivessemos de processar toda a informação que recebemos dos nossos sentidos 100% do nosso tempo de vida precisaríamos de cérebros do tamanho da cúpula de S. Pedro.

Uma das missões mais importantes dos nossos primeiros anos de vida é organizar a informação em padrões, rotinas e pacotes previsíveis e compreensíveis dentro de uma lógica para não ser necessário ser recém-nascido todos os dias.

A esses primeiros padrões vão juntar-se todos os que faremos a vida toda numa espécie de camadas mais ou menos coerentes que chamaremos a "nossa história" e que na realidade é apenas a nossa percepção do que foi acontecendo e que vivemos segundo a nossa padronização de significados muitas vezes bem longe do que outras pessoas leríam das mesmas circunstâncias.

Basta para isso ver como dentro das famílias dificilmente todos têm a mesma versão dos factos que todos viveram em conjunto.

A nossa sobrevivência depende de criarmos caixas de programação mental, mas essas caixas são também a nossa prisão. É um paradoxo.

Quando a nossa experiência de vida nos levou a concluir que a nossa caixa é uma caixa de sofrimento, temos dificuldade em saír dessa lógica porque tudo o que fomos percebendo é coerente com a nossa caixa. É assim que funciona, para o bem e para o mal.

Vemos isto com mais facilidade quando observamos os outros à nossa volta e dizemos que eles estão a perceber tudo mal e nós a perceber bem melhor... resta saber se alguém está realmente a perceber alguma coisa.

 

É importante compreender como funciona a nossa percepção porque a prisão da nossa forma de ver o mundo, é onde teremos de encontrar a porta colocando a hipótese de que podemos ter condicionado a nossa visão das coisas por dor, por sofrimento, por sobrevivência a traumas, a abusos de tantas formas das mais subtis às mais esmagadoras... e pode ser necessário colocar novas condições, de cura, de valorização pessoal, de amor próprio e de espaço vazio para colocar novas possibilidades.

 

A realidade é que está tudo em aberto para um recém nascido como está para um adulto. Só que o recém nascido vive isso plenamente e o adulto está condenado às suas certezas até aprender a mais importante lição: Abrir os olhos com inocência para uma nova vida em construção.