Ter ajuda para poder ajudar

30-07-2010 13:31

 A maior parte das pessoas não entende nada de adicções. Infelizmente isto inclui muitos clínicos e profissionais da terapia e da ajuda, como psicólogos.

A maior parte dos médicos medicaliza e não compreende de onde vem a adicção nem o meio em que se desenvolve. Assume apenas a vertente química e esquece a mais importante que é a vivencial.

A psiquiatria oferece aos adictos precisamente aquilo que estes procuram: alienação e formas de alívio rápido, evitando a necessidade de ir ao fulcro da questão que é a necessidade de mudar de vida.

 

A maior parte das pessoas não compreende que a adicção, seja ela qual for, não é uma falha de carácter, uma mania superficial que se supera com uma simples decisão.

Os adictos não são tolos, nem burros, nem idiotas. Muitos são pessoas de enorme inteligência e, inclusivamente ocupam cargos de grande responsabilidade social.

A adicção é uma doença que ultrapassa o habitual entendimento do conceito de doença, já que não é apenas uma doença de corpo, não é uma circunstância ou um estado de coisas.

A adicção é uma resposta de sobrevivência. A adicção decorre sempre de experiências traumáticas do ponto de vista do indivíduo. A adicção é uma doença de vida, uma doença total, no sentido em que se relaciona com todos os aspectos da vida do adicto, porque está localizada no que este tem de mais profundo em si.

Assim, não há medicamento, não há férias, não há mudar de ares, não há conversa, não há nada que termine com uma adicção, a não ser com uma completa e profunda alteração de hábitos de vida a par com toda uma reformulação da auto-imagem, da forma como o adicto encara a vida, a si mesmo.

 

A família está habitualmente ligada à fonte da adicção, mesmo que isso não pareça óbvio. Ninguém gosta de sentir culpa e, na realidade nada tem a ver com culpa. Tem a ver com dinâmicas, ou seja com o significado de cada um dentro de um grupo, de uma família.

A família é, habitualmente, quem menos pode ajudar, porque a família traz consigo a origem, precisamente do que trouxe o adicto até ali.

Mesmo que doa pensar assim, mesmo que pareça injusto, mesmo que pareça um absurdo, esta é a dura realidade SEMPRE. Não há excepção.

 

Se a família quiser ajudar, precisa antes de mais de ter ajuda, para compreender como foi que tudo isto se processou e de ajuda para encarar cada dia de forma a, senão ajudar, ao menos não atrapalhar ainda mais.

 

Ajuda?

Famílias anónimas 

Co-dependentes anónimos

MADA - mulheres que ama demais

Alanon

Alateen

 

É nestas salas, e nestas pessoas que a ajuda está.

Da mesma forma que para os adictos a ajuda está nas salas de 12 passos de seja qual for a adicção.

 

Se é familiar de um adicto entenda que a sua simples presença, a sua simples existência, já traz duas poderosas armas contra o adicto:

Culpa e vergonha.

Mesmo sem abrir a boca, mesmo sem lho dizer, mesmo sem que queria transmitir isso, ou até lhe diga o contrário, é isto que a família significa para o adicto.

Doi.

Mas é a verdade.

Peça ajuda.

Se quer ajudar.