Vozes cá dentro

13-04-2010 16:45

Os nossos dias são povoados de acontecimentos, encontros e tudo o que os nossos sentidos vão recebendo.

Mas mais do que tudo, os nossos dias são povoados de pensamentos, feitos de imagens e vozes que vão criando uma especie de atmosfera na qual vivemos.

Essa atmosfera molda a forma como recebemos os tais acontecimentos exteriores.

Essa atmosfera é feita de muitas camadas, tanto mais fugazes quanto mais exteriores, tanto mais densas quanto mais interiores. Ou seja, há pensamentos que temos sempre e outros que aparecem e passam,  porque não ecoam até a tudo aquilo em que acreditamos há muito tempo.

A repetição é a forma como essas camadas de pensamentos e imagens se distribui em termos de hierarquia de pensamento.

Toda essa informação vem de um exterior que nos vai "ensinando" e "programando" e de um interior, em grande medida inconsciente que tem sobre o nós o poder de não nos darmos conta de que estão lá... e é por isso que se chama inconsciente.

Embora em meditação seja sugerido tentar não pensar, a não ser que estejamos em coma profundo, teremos dificuldade em manter esse estado de "não pensamento" por muito tempo.

No entanto, todos podemos fazer um jogo com a nossa cabeça, como o jogo do Stop. A cabeça vai fazendo o que faz sempre e de vez enquando dizemos Stop, e damo-nos conta do que estávamos a pensar nesse preciso momento.

Sem julgamento de valor, nem uma análise qualitativa desse material, iremos acabar por dar conta de que uma boa parte do que paira sobre a nossa atmosfera mental são vozes. Coisas que ouvimos, educação, cultura, informação que recebemos e que nos vai habitando e moldando.

Damos também conta de que o conteúdo das nossas cabeças é muito repetido.

Agora se imaginarmos que as dependências fazem parte das camadas mais internas do pensamento, ou seja são densas, sempre presentes e não conscientes, e que se ramificam em vozes quase sempre destrutivas e desafiadoras a repetir e repetir um ambiente de angústia, sofreguidão, impotência, vergonha, culpa, solidão, desespero, necessidade de provar algo, necessidade de esquecer algo, nunca ser o suficiente, nunca chegar, ser sempre preciso mais,...

Toda esta conversa para sugerir brincar ao Stop com a sua cabeça. Observe bem essas conversas interiores, o que se exige e o que se dá em troca, o que se critica e pune e o que se orgulha de ser capaz, bem como a sua pirâmide de prioridades a cada momento...

Tomar consciência do carrasco que nos habita permite dar um pontapé no carrasco e mandá-lo passear sempre que nos assalta e o que veremos é que nos assalta muitas vezes por dia, com pensamentos, imagens, ideias, temores, preconceitos, impulsos e, claro... compulsões.

A voz que se ouve cá dentro são muitas vozes, a querer tempo de antena e, cabe a cada um munir-se de ferramentas para escolher quais dessas vozes merecem a nossa vida.

Pode ser, e muitas vezes é, necessária ajuda. Porque os caminhos que separam o que somos do que nos fizeram acreditar que somos... são caminhos tortuosos, confusos e muito pouco lineares.