8º Passo
8º Passo - Fizemos uma lista de todas as pessoas a quem prejudicámos e disposémo-nos a reparar os danos que causámos sempre que com isso não fosse prejudicar essas pessoas.
Na recuperação do co-dependente no topo dessa lista vem "Eu". Já que para o co-dependente é importante parar de lutar com o centro virado para fora, sempre girando em torno dos outros, manipulando e desta vez "reparando danos" mas sempre os outros, os outros,... e isso faz parte da condição que queremos alterar.
Assim o co-dependente começa a procurar reparar os danos que tem trazido a si mesmo, cuidando de si, ao menos desde agora, consistentemente de si primeiro.
Para todos os adictos a lista de pessoas a quem prejudicámos é uma história muito grande de faltas de seriedade, de faltas de generosidade, de faltas de verdade causados por um centramento doentio no objecto da adicção como se mais nada interessa-se.
Quem trabalhou compulsivamente foi provavelmente negligente, competitivo, cego na sua correria profissional contra o tempo e contra si mesmo.
Quem comeu compulsivamente, foi provavelmente iniciando um ciclo de solidão e deixando outros sós nesse processo, aceitando limitações físicas que vieram a criar confinamentos e impedimentos que deixaram um rasto de falta de saúde em si em em todos ao redor.
Quem bebeu, quem se drogou, provavelmente mentiu, quem sabe roubou, quem sabe bateu, enganou, manipulou...
São tantas as histórias, transversais a todos os estratos sociais, culturais, géneros, idades, geografia...
As adicções são doenças de vida, são doenças totais, afectam toda a vida do adicto e, invariavelmente quem estava por perto, numa contaminação de dor e de doença, porque as adicções nunca são doença de um, são uma doença partilhada, uma doença de constelação.
Que agora começa a ser observada com honestidade, sem mais histórias, mentiras, omissões, desculpas.
A lista pode levar o seu tempo.
Ressentimento é um traço de todos os adictos e a falta de um olhar sincero sobre esses ressentimentos é outro.
Pode levar tempo e estar tudo deturpado.
Apetece continuar a "ter razão" e culpar os outros.
No oitavo passo descontinuamos o mito doentio e começamos a entrar numa dimensão em que as coisas funcionam porque enquanto reparamos danos e enquanto permitimos que arestas se harmonizem, começamos a deixar o perdão entrar.
Não é o perdão dos outros.
É o primeiro perdão de todos.
O perdão de nós mesmos, o aceitar do que somos e fizemos porque estávamos doentes de uma dor profunda, que era total, era a nossa vida inteira doente, a mesma que agora está em recuperação. Em reparação.