Amo-te a ti mas não a esse monstro em ti
A nossa visão compartimenta.
Aquele é ele, e ele tem um lado solar e outro lunar. E eu gosto dele quando está bem, mas acho-o estúpido e dá-me raiva quando está mal.
É uma espécie de possessão. Uma espécie de vírus que se instala, uma espécie de montruosidade, um parasita que se apodera de quem amamos criando aspectos hediondos na vítima dando-nos tanto a lamentar. Tanta potencialidade deitada ao lixo. Uma pena...
Viver só é ser bocados.
Aqui posso ser assim, ali posso ser assado.
Todos nós experimentamos um pouco dessa solidão, todos percebemos que não podemos ser o mesmo em todas as circunstâncias.
Para os adictos isso ganha proporções apocalípticas. Sempre que alguém diz: Gosto tanto de ti mas não gosto de isto em ti. Esta frase é como um serrote.
Do ponto de vista do adicto, tudo é inteiro. Eu sou esse. Eu não consigo ser este e aquele, por isso estou perdido. Estou desgraçado. Sei como neutralizar isso. Só preciso de aumentar o desvario e isto vai desaparecer.
Do ponto de vista do co-dependente, o adicto é um doente, enquanto o co-dependente é a vítima.
Do ponto de vista da comunidade em geral o adicto é-o consoante o objecto da adicção. Ser um acumulador compulsivo, um jogador compulsivo, um comedor compulsivo, um adicto aos jogos de computador, da televisão, de adrenalina, de sexo... são adicções repulsivas mas não criminosas nem socialmente reprováveis. São apenas faltas de personalidade.
Lá está. Falta de personalidade. Lá estão pessoas cortadas às fatias.
Só existe uma forma de amar sem deixar o outro sozinho: Amando o sol e a lua, dando respeito, verdade, dizendo sim e não de forma objectiva, não participando do jogo de sombras, participando do pedido de ajuda sincero. O todo do outro não é feito de bocados. Não dá para separar gosto disto mas não respeito aquilo.
Cada um é um todo em si mesmo.
Quem ama percebe isso, não se auto-vitimiza, nem faz teatrinhos.
Perde o medo e abraça tudo, ou vai embora e deixa o adicto em "paz".