Culpa e impotência num caldo de certezas

15-02-2012 13:21

Em muitos conteúdos deste site, o co-dependente tende a ser uma espécie especial de dependente. É uma espécie de anti-dependente, uma espécie de caso à parte.

Também é de alguma forma parte do problema e não da solução, o que é a última coisa que o co-dependente queria ser.

O co-dependente quer ser uma boa pessoa e, em última análise, eventualmente é. Não por ser co-dependente mas por ter um fundo bom, generosa, prestável.

O sentimento de impotência podia ser a sinalização inequívoca de que existe uma relação de co-dependência e de que é tempo de parar "ajudar".

O sentimento de culpa face a um passado em que se podia ter feito e acontecido, é a sinalização inequívoca de que é tempo de parar com culpabilizações e impossíveis viagens ao passado.

 

O mesmo respeito, a mesma honestidade e integridade com que se pode observar o adicto, ajuda o co-dependente a reposicionar-se. É muito difícil a um co-dependente deixar a negação e, humildemente saír do seu caldo de certezas.

As próprias fundações do ser podem estar construídas sobre essa necessidade de "ajudar" controlando e manipulando. Como todas as adições é uma questão de sobreviver.

Não admira que manter-se em negação seja fácil e recair seja provável. Ser "bonzinho" e "ajudar" são duas máscaras de tal forma convenientes que até enganam o mascarado.

Quando o co-dependente se vê num espelho de humildade e objectividade, eis que a culpa começa a ser diluída pela descoberta de uma nova imagem pessoal por nascer, num novo envolvimento, em novos pressupostos.

Até lá a co-dependência suga a energia toda, vampiriza, distorce, exige muito mais do que é humanamente possível dar e mesmo assim tudo falha.

 

A co-dependência define-se pela sua impotência, pela cegueira em que sobreviver é vestir o personagem do salvador que manipula e controla perdendo sempre a corrida e sentindo-se pessoalmente ofendido e decepcionado com os outros sem olhar para si.

É um papel extremamente doloroso. Uma viagem ao inferno. Um buraco negro de qualquer adicção. Como o avesso da mesmíssima coisa.

Dói que se farta. Mas nunca se farta.