De que lado estamos?

11-04-2010 14:53

Do lado da dependencia ou do lado do adicto?

É simples saber. Basta responder com toda a sinceridade às seguintes perguntas:

- Procura poupar o dependente às consequências dos seus actos?

Por exemplo pagando-lhe contas, mentindo por ele, e tentando em cada momento minimizar o dano na esperança de lhe facilitar a vida e de manter a sua confiança?

- Desdobra-se em esforços para "ajudar" o dependente e depois fica numa enorme frustração por nada mudar?Será que acaba por transmitir essa frustração ao adicto culpabilizando-o?

- Procura controlar o adicto com "algumas mentirinhas", esquemas, manipulação, confronto e controlo directo, chantagem com dinheiro, e outras atitudes pouco dignificantes?

Muitas vezes poderá pensar que os fins justificam os meios e que só o faz para proteger o adicto dele mesmo.

- Imaginando um gráfico de queijo acerca do que ocupa a sua cabeça todos os dias, que fatia estaría ocupada com preocupações, desgosto e estratagemas para "ajudar" o adicto?

- Irrita-lhe pensar no quanto a vida do adicto podia ser mais fácil se este se controlasse e tentasse ter uma vida "normal"?

- Oscila entre a esperança e a falta de esperança consoante "consegue fazer alguma coisa" ou vê todos os seus esforços deitados por terra?

É importante responder sinceramente a estas perguntas na medida em que ninguém está aqui para julgar ou culpar. Ninguém duvida que faz o seu melhor e que daria tudo por ver o dependente livre e feliz e acabar com todo o pesadelo.

Responder sim a uma ou mais destas perguntas dá-lhe pistas sobre o que não funciona e o que pode estar a fazer em prejuízo apesar de ser com a melhor das boas vontades.

Agora outras perguntas:

- Consegue ter a coragem para não se deixar ir nas manipulações do adicto?

 É muito importante perceber que é mais importante manter o seu respeito por si mesmo e a sua confiança na sua integridade do que negociar com o adicto.

- Consegue ter a coragem para deixar que o dependente sofra de todas e mesmo todas as consequências dos seus actos sem se envolver nem tentar influenciar esse impacto?

- Consegue lidar com a dependência como uma doença e não uma falha de carácter?

O seu papel é manter-se pautado pelo respeito e a integridade em si, e não no outro?

- Consegue abster-se de tentar controlar o adicto de formas que não seríam aceitáveis para outras pessoas como: ofender, trancar, chantagear, fazer esquemas com outras pessoas, mentir, desaparecer com objectos pessoais, invadir a privacidade...?

- Consegue avançar um passo e entrar em recuperação do sofrimento que ter um dependente em casa ou relacionado consigo, implica?

- Consegue tratar o dependente com carinho, com respeito, com inteireza, dando-lhe verdade, justiça e tratando-o como gostaria que o tratassem a si se estivesse doente de uma doença qualquer?

- Consegue saber qual é o limite desde o qual vai começar a tornar-se irracional nas suas atitudes e saír de campo antes disso?

- Consegue ter a lucidez de procurar toda a informação e a coragem de só fazer pelo adicto o que contribuir para a sua recuperação sem lhe resolver problemas nem entregar a sua vida à luta inglória de tentar mudar o outro sem se mudar a si?

 

Estas perguntas dão pistas de caminhos. Se for conseguindo responder cada vez mais sim a estas  e não às anteriores, vai no bom caminho.

Nada na dependência depende si, família e amigos. Meta isso na cabeça de uma vez por todas.

Porque será que entregamos todas as outras doenças aos cuidados de médicos e insistimos em tratar nós da dependência e suas consequências nos nossos chegados?

Se o dependente viver ou morrer, se entrar em recuperação ou não... nada vai depender da sua palavra, do seu gesto, do seu controlo. Quanto mais faz, pior. Quanto mais tenta... pior. Quanto mais se envolve... pior.

Meta isso na cabeça.

Cuide de si. Mostre o que é recuperação com exemplos e não com palavras. Mostre o que é ter a coragem de mudar com o seu exemplo. É tudo o que pode fazer.

O resto, o dependente tem de lidar com toda a amplitude do seu problema, para perceber que tem um problema e pedir ajuda às pessoas certas.