Espiritualidade e recuperação

07-04-2010 13:52

Espiritualidade não é religião. Vivemos numa sociedade, numa cultura cheia de religião com toda uma moral importada da religião vigente por séculos e onde até os ateus o são de uma ideia de Deus. São crentes ao contrário, mas crentes de que não existem divindades.

Espiritualidade nada tem a ver com isso.

Religiosidade é uma intrepretação humana da espiritualidade. Enquanto espiritualidade não precisa de nenhuma interpretação e apenas de ser vivida. Na realidade quanto mais se interpreta mais se estraga.

Espiritualidade é um dos maiores vazios deste tempo e deste colectivo. Espiritualidade é um encontro marcado com o que temos mais dentro e mais intrínseco, e insistimos em faltar a esse encontro por confusão de palavras.

A espiritualidade assusta o religioso. Aproxima-o de todas as suas dimensões, mesmo das que a religião sonega.

A espiritualidade aproxima-nos de todas as nossas dimensões de humanidade, de natureza, da célula ao planeta, das emoções ao corpo, da mente concreta ao sonho. Tudo são dimensões do espírito.

Quando procuramos sentir a perfeição no êxtase temporário das recompensas da adicção, procuramos esse elo perdido com nós mesmos, numa dimensão na qual, pura e simplesmente, deixámos de acreditar, por mais religiosos que pudéssemos ser, por mais ateus.

Insipiração vem da mesma origem, da mesma família in spiritu dessa espiritualidade, dessa amplidão. Inspiração não é ter só boas ideias, é também respirar. Respirar é viver, literalmente. É estarmos imbuídos dessa inspiração, do espírito, nesse sentido lato, independente, enorme e regenerador, que percorre todos os eco-sistemas, todas as cadeias alimentares, toda a química e a física do universo do qual fazemos parte.

Sendo assim, como duvidar de um poder superior.

Orar e meditar, não significa esfolar os joelhinhos em promessas humildes. Significa erguer a cabeça e escutar no bombear milagroso do coração no peito a grandeza de que somos feitos, a fibra do que podemos ser, sendo simplesmente nós mesmos, acordados para o que nos inspira.

Orar e meditar pode passar por pedir ajuda, pode passar por ficar sentado a respirar e a tentar não pensar. Mas é principalmente passear no campo, ouvir as árvores, sentir o fulgor dos cavalos, a leveza da borboleta, a liberdade do pássaro e a nossa inteligência. Não a que se lê nos livros e nos leva em sondas a Saturno. Mas aquela que nos permitiu sobreviver até hoje.

Hoje.

E só por hoje podemos tentar sentir o quanto tudo isso é grande.