Família e prevenção de recaída

14-05-2011 02:10

A maior parte das famílias previne policiando. Cobrando. Vigiando e manipulando.

A família não confia. Está traumatizada. Esse trauma é isso mesmo, um trauma verdadeiro e legítimo, mas lá que não ajuda ninguém... isso é o que significa que para ajudar a família tem de ser ajudada por quem sabe o que é ser adicto e o papel das famílias na genese e manutenção do condicionamento das adicções presentes.

A família por norma tenta ter controle, porque controle é esperança. Mas controlar é o fim da esperança.

Prevenir a recaída, no que toca à família, é prevenir a própria recaída de cada um nos esquemas doentios das famílias dos adictos.

Adictos não são indivíduos doentes. Isso é um mito. Adictos são expressões de famílias doentes. Sociedades doentes.

Então onde um adicto previne a sua própria recaída, a família pode ajudar fazendo o seu próprio exercício de auto-consciência. E, como não é de estranhar, fazendo parte do complexo doentio, a família pode estar em negação, e dizer que nada tem a curar, apenas o adicto está a precisar cuidar de si.

A família, ou melhor, cada um na família, precisa de se proteger, de iniciar o seu monitorar de atitudes, de trauma, de resposta pelo medo, pela desconfiança e começar a falar verdade, dizer a verdade e viver em função da verdade. Lidar com as consequências é parte do que o adicto mais precisa. Falar verdade não é atacar. Porque a verdade do adicto é uma doença grave e profunda. Atacar dificilmente será fruto de verdade, mais será fruto do tal trauma.

Manipular, controlar, "manter rédea curta", desrespeitar a privacidade, desrespeitar a idade e a inteligência do adicto, é tudo fruto de trauma famíliar.

O que faría uma pessoa saudável junto de outra saudável?

Será que a família consegue fazer isso?

Dificilmente.

Mas quem está fora consegue. Quem está em recuperação há algum tempo consegue. E é por isso que muitas vezes o ideal é a família curar-se, proteger-se, informar-se e deixar a quem sabe a capacidade de ajudar o adicto.

Vergonha, culpa, miserabilismo, falta de auto-estima, medo da vida, eterna adolescência, ou obstinação e sofreguidão, ou níveis extremos de competitividades... nada disto melhor com ambientes cheios de ressentimentos mais ou menos assumidos.

 

Para o adicto como para a família, prevenção de recaída é um exercício de consciência, aprendendo a lidar com o especto de situações/sentimentos de forma mais equilibrada, com ferramentas e apoio certo.

Doloroso, mas pensando melhor, nada pode ser mais doloroso do que a adicção activa em pleno. Nada pode doer mais. Então cada pequena conquista é um enorme ganho. E o tempo vai construíndo novos dias de hoje. Só por hoje.