Medicação e consciência
(Este site não se destina a afastar adictos dos seus médicos assistentes. A responsabilidade é sempre decidida na primeira pessoa.)
Com o passar do tempo a compreenção da dimensão total das adicções vem tornando os técnicos de saúde mais aptos a cuidar dos adictos inclusivamente articulando-se com as reuniões de 12 passos.
Antigamente e não há tanto tempo assim, os adictos eram tratados com anti-depressivos e ansiolíticos.
A ideia era que baixando a ansiedade e controlando a depressão o adicto deixava de ter razões para consumir o seu objecto de adicção.
Entretanto o adicto mantinha-se no mesmo meio, com as mesmas pessoas, com as mesmas dinâmicas, as mesmas circunstâncias, perspectivas, hábitos e rotinas...
Entretanto os anti-depressivos e os ansiolíticos em conjunto com drogas e álcool resultavam num cocktail ainda melhor.
Muitos desses anti-depressivos e ansiolíticos começaram a ser vendidos no mercado negro. Eram e são.
Enquanto os médicos dentro dos centros de tratamento vão compreendendo melhor as necessidades profundas e totais do adicto, existe mais informação disponível para a comunidade em geral.
Para as adicções em geral continua a ser utilizada o mesmo caldo de acabar com a dor química e com a angústia física para ser possível continuar a viver vidas ingovernáveis.
Para as adicções valorizadas culturalmente, como os adictos ao trabalho, nem sequer chega a haver um diagnóstico ou a noção de que fulano é adicto. Muitos trabalhadores "esforçados", competitivos, ambiciosos, dedicados.... são adictos ao trabalho. Estão doentes. Quantas vezes adoecendo os mais próximos por negligência. Quantas vezes distorcendo o razoável com excesso de exigência em relação aos que, por saúde mental, se recusam a embarcar na insanidade do adicto.
Medicar adictos é quase como começar uma espiral, oferecer uma oportunidade de alavanca, do conforto tolerável. Mas a recuperação, aquela que verdadeiramente se chama recuperação, continua fora da consulta, continua para além do efeito do medicamento.
A recuperação é feita de forma articulada, entre a consciência dos clínicos que oferecem suporte e a consciência do grupo de 12 passos que o adicto integra dizendo:
A minha vida tornou-se ingovernável e preciso de ajuda.
Recuperação não é para quem precisa. É para quem quer.
E quem quer precisa de ajuda consciênte, experiente, articulada, abrangente e humilde.
É o que se observa com o passar do tempo.