No cerne da co-dependência

30-07-2010 13:05

 Seja qual for a adicção ela implica sempre uma co-adicção que a torne possível.

Por outro lado seja qual for a adicção, logo começa a gerar-se um complexificar de dinâmicas em torno do adicto e gradualmente tudo começa a tornar-se complexo, confuso e cheio de meandros e subtilezas.

Para o adicto é simples. Ele objectificou as pessoas por isso deixou de sentir empatia e preocupação honesta com quem o rodeia. Só tem um fito, objecto da sua adicção.

Para quem ama o adicto, porém, tudo é bem mais complicado. Existe a noção do desequilíbrio mas este é recontextualizado de forma a ser aceitável e enquadrável como possível. Normalmente quem ama não vira as costas, normalmente quem ama tenta negociar, compreender, sente empatia para com o sofrimento e quer acreditar que pode ajudar, porque se puder, há esperança.

Normalmente quem ama tem esperança e desespera sempre que vê as suas esperanças defraudadas.

Nas adicções legais como a internet, o trabalho, a comida, os jogos de computador, as relações fúteis e fugazes; as fronteiras são ainda mais indefinidas e quem ama o adicto nem sabe bem o que está a suceder com a sua relação. Sobretudo com o trabalho, este pode mesmo ser uma adicção encorajada dentro do seio familiar.

Nas adicções que causam problemas imediatos mais visíveis como droga, alcool, jogo a dinheiro; já tudo é mais claro desde o início. Para quem ama este tipo de adicto a situação é: Este adicto tem um problema e eu tenho de o ajudar para ele não se enterrar ainda mais.

 

O que quem ama um adicto não sabe, é que as adicções todas "boas" ou "más" geram dor. Criam desequilíbrio. Têm origem em dor e desequilíbrio. E, principalmente, alastram como um vírus que gradualmente afecta a todos os que rodeiam o adicto.

Seja o pai, a mãe, irmão ou amigos muito próximos; o resultado é o mesmo. Dentro do coração de quem ama estes adictos um vírus instala-se e começa a interferir com os programas base de percepção, discernimento e gestão da vida comum, criando confusão, distorção e cada vez mais falta de objectividade até ao dia em que adictos e co-adictos estão igualmente doentes, e constituem uma dinâmica profundamente contaminada.

 

A co-dependência é uma doença e pode verificar-se o impacto do seu dano no dia em que por circunstâncias diversas o adicto vai embora, ou entra em recuperação.

O co-dependente, mesmo que fosse saudável antes, tornou-se numa pessoa com uma percepção contaminada das coisas e poderá então constatar que aquilo que começaram por ser circunstâncias exteriores, tornaram-se programação mental e confusão interior. Um estado de aflição latente instala-se, um estado de medo de impotência, de medo de não controlar, de medo de que volte tudo ao que era, fica latente num estado de hiper-vigilância.

Nunca mais nada fica igual.

 

Estes sintomas serão tanto mais graves e profundos quanto mais novas são as pessoas sujeitas à relação com adictos como no caso de filhos ou irmãos mais novos. Os danos são graves pois confundem-se com a própria identidade do indivíduo.

Assim, mesmo que "até se esteja a aguentar", mesmo que "isso não adianta nada", mesmo que "não sou em quem precisa de se curar", mesmo que todas estas frases venham ao pensamento de quem sofre por amar um adicto; é indispensável entrar em recuperação.

 

Filhos de adictos precisam de frequentar Alateen assim que possível, conjúges, namorados, mães ou pais, precisam de frequentar alanon, famílias anónimas, co-dependentes anónimos logo que se apercebam de que existe um ou mais adictos na sua dinâmica familiar porque esta é a Verdadeira e mais Eficaz forma de realmente ajudar o adicto.

É a acção mais urgente.

Frequentar as reuniões, ler a literatura, partilhar com quem sabe do que está a falar e em recuperação é a primeira prioridade antes de tentar "ajudar" o adicto.

Antes que o vírus da complicação comece o seu trabalhado destrutivo no seio de toda a família e amigos.