O que posso fazer para ajudar o meu familiar adicto?

14-04-2010 10:27

Talvez seja a pergunta mais desesperada e angustiada que paira sobre a cabeça de quem vive ou assiste ao desconcerto doloroso da vida do adicto.

Como posso ajudar? Como posso fazer a diferença?

Tentamos aqui, humildemente deixar alguns tópicos, na consciência de que não estamos a propor medidas fáceis nem garantidas, na medida em que o processo depende mesmo e em 99,9% das escolhas do adicto e não das suas.

 

:: Entre em recuperação

Conheça os 12 passos e inicie uma implementação dos 12 passos na sua própria vida. Procure alguma reunião à qual lhe faça sentido ir e procure saber tudo acerca da importância e questões relacionadas com cada passo. Mesmo que pense que não é doente, (a outra pessoa é que é), mesmo assim arrisque pôr a hipótese de que os 12 passos possam ajudar a curar feridas suas, e as suas dúvidas acerca de como o adicto afecta a sua vida.

:: Faça um exercício diário de integridade moral

O adicto não vê pessoas, vê objectos. Não por ser mau, mas por estar doente. O adicto manipula por sobrevivência e não agradece porque não vê o outro enquanto pessoa com a qual deva ser empático. Por isso não entre em negociações consigo nem com o adicto. Faça diariamente um exercício de integridade mantendo para si que aquilo que faz com, ou pelo adicto são sempre gestos universalmente correctos, justos, altruístas, verdadeiros e vou repetir: Verdadeiros.

Mentir, controlar, trancar, manipular, controlar, enredar, são tudo coisas que só tornam o adicto em alguém ainda mais perdedor.

Integridade é dizer a verdade, não aceitar manipulações nem manipular, não negociar, não tentar "comprar" a confiança do adicto, não se humilhe, não implore, não entre em dramas nem novelas. Mantenha-se integro. Todos os dias. Respeite e faça-se respeitar.

:: Responsabilize-se: Afinal quem é vítima do quê?

"Ele rouba-me e gasta-me o dinheiro todo"!! Subtitua por:

"Eu permito-me roubar e ficar sem nada!"

"Ele só trabalha e deixa-me sempre sozinha com tudo o resto" Substitua por

"Eu permito-me viver frustrada, sozinha e com todos os encargos para mim"

Comece a chamar a si o que é do seu pelouro e a deixar o outro com os seus problemas. Responsabilizar-se por si é mais útil porque dá-lhe o poder de mudar a situação e não aumenta dois dos maiores tóxicos para o adicto que são a culpa e a vergonha.

Por mais errado que este pensamento lhe pareça ou injusto: Os seus problemas são só seus e tem-nos porque não os muda. Não culpe mais ninguém. Mude a sua realidade em vez de tentar mudar a realidade do outro.

:: Peça ajuda a quem sabe

Não tem de imaginar que lidar com uma doença deste calibre é uma ciência inata. Pelo mundo fora milhares de pessoas estudam a adicção, é uma das doenças em maior progressão no mundo desenvolvido, é grave, é mortal e está longe de ser um problema da sua casa e daquela pessoa. É um flagelo social de enormes proporções e habitualmente a família sente um exasperante sentimento de impotência.

Por isso não se meta na tarefa Hercúlea de tentar resolver isto por si. É mesmo necessário um exercito de técnicos e adictos em recuperação para ajudar. Envolva a comunidade. Há pessoas dispostas a estender-lhe a mão. Só não pode empurrar o adicto nessa direcção se este não quer ir. Tem de ir pelo seu pé, para resolver a sua parte do problema e saber o máximo. 

:: Sujeitar-se às regras do adicto é mesmo do pior que pode fazer por todos.

O adicto, simplesmente não tem o direito de dar cabo da vida de toda a gente. Poupe-se a si e sobretudo a crianças presentes. Crianças que cresçam com adictos terão probabilidades muito maiores de vir a desenvolver personalidades aditivas também. Não se trata de abandonar ou ser cruel. Trata-se de compreender que não pode ajudar e outros podem. E que se for mantendo a situação como está, diminui as probabilidades do adicto pedir ajuda a quem o pode ajudar, enquanto este se enterra a si mesmo, e a toda a gente que o rodeia.

Avance e nem olhe para trás. O adicto precisa de bater no fundo e compreender que não é sustentável manter o caminho que segue. Ele não vê pessoas, não vai agradecer nada do que faz pela sua sobrevivência, não tem a capacidade de avaliar as situações correctamente, melindra-se imenso com tudo, nunca vai esquecer uma falha sua, mas vai esquecer-se de todas as vezes em que é cruel e negligente.

Porque está doente. Porque isto são sintomas de dependência. Porque esta, como outras doenças, mina a personalidade do indivíduo e este fica como que possuído. Por isso compreenda que martirizar-se por um adicto é pôr mais umas achas na fogueira em que o adicto arde. Mais nada.

:: Iniciar serviço pela comunidade

Ajudar é uma função de uma espécie de músculo emocional que temos e que precisa de ser exercitado. Envolva-se em voluntariado na sua comunidade, ajudando quem quer realmente ser ajudado. Quem quer mesmo ser ajudado, não diz que quer, mostra que quer aproveitando qualquer oportunidade para gerar mudança visível.

No dia em que o adicto da sua família também quiser realmente ajuda vai passar à acção e não apenas a palavras gastas.

Fazer voluntariado vai colocar muita coisa em perspectiva, ajudar a sua auto-estima, trabalhar algum eventual sentimento de culpa para com o adicto... e ser útil para a sua comunidade.

:: Entre mesmo só quando for para haver recuperação:

Pode ajudar o adicto no que diz respeito à recuperação. Espere que o adicto ou os técnicos que o assistem lhe digam o que é necessário. Compreenda que o adicto precisará provavelmente de internamentos de meses, e que a adicção é uma doença crónica, que precisa de muito tempo de trabalho, mantendo-se a personalidade aditiva sempre latente.

Um internamento não é nada. É apenas o princípio de uma viagem longa. 

 

Há muito mais que pode fazer. Passa por informa-se e estar presente no seu processo pessoal de recuperação.

Existe também uma fórmula a repetir milhões de vezes na cabeça e no coração:

VERDADE, VERDADE, VERDADE

Seja verdadeiro consigo, seja verdadeiro com o adicto, seja verdadeiro com a verdade.

 Comece já. Olhe no seu espelho o seu olhar, provavelmente cansado e escolha sempre a verdade. É a melhor bússola.